quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Pontas cônicas - Marah Mends


Pontas cônicas.

Faça um objeto com sombra, pediram. Sem lampejo, olhou para o papel vazio e não houve a conexão. Era um dia de sol, mas no âmago chovia. Pensou em desenhar um reflexo sem o objeto, mas se ilustrar só o reflexo de que plano foi prospectado esse ato criador? Tudo precisa mesmo fazer sentido? As experiências lúdicas são tão ricas! Hoje mesmo lembrou da palhaça de dentro do metrô. Ela sorria de cara pintada, nariz vermelho e roupa colorida. Como consegue armar um sorriso daquele às seis e meia da manhã, em pé, apertada no vagão do metrô? A palhaça espirrou. Atchimmmmm! Silêncio! Eu, hein, gente esquisita! Cê espirra e ninguém fala saúde! A palhaça não é boba, ela confronta, ressignifica o ambiente com seu sorriso impávido colosso e a gente... sente? Ela era atrevida, passava entre as pessoas automáticas e perguntava: Ei, você é feliz? Você está feliz? Você é feliz assim? Ninguém respondia. Será que essa tática de humanizar o processo funciona com pessoas dessa década? O público estava cansado e indiferente demais para responder questões tão filosóficas que exigem alguma porcentagem de reflexão. Compenetrados demais nas mensagens do smartphone que do corpo é extensão.
Piiiiiiiiiiiiiiiii. Metrô Sé... desembarque pelo lado esquerdo do trem. Foi assim que a palhaça deu um tchau, mandou beijos pelo ar e saltitante saiu.
Será que alguém reparou que os olhos castanho-escuros da palhaça estavam tristes? Daria um desenho...

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