segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Sinóptico - Marah Mends


Sinóptico

Numa pausa para o café, mesmo em pé, refletiu sobre seus múltiplos papéis sociais. Para que assumir tantos papéis se temos uma vida tão curta? É possível a escolha de uma, duas, no máximo três funções e seguir?

O que é sucesso? O que está atrelado a ele? A custo do quê? Qual a diferença entre sucesso e sobrevivência? A impressão que tenho é que uma geração inteira é indiferente com a preciosidade de um tempo livre. Enchem-se de afazeres para nos dizeres soar com orgulho: Não tenho tempo! Ei, você observou que o céu mudou de cor? Não tenho tempo! Tá vendo aquele vaso ali? Brotou uma flor.. viu? Não tenho tempo!  Sua mãe em linguagem não-verbal te pediu um abraço e você... Que ocupação é essa? Ocupa... o quê?

Foi na pausa para o café que bugou. Bugou a ponto de não conseguir soletrar o próprio nome. Como me chamo mesmo? Pausas são importantes? Porque não sei se reparou, mas tem coágulos em suas mãos. Sua mente está estraçalhada e o pensamento migrado de outros cansaços ainda reproduz as orientações de fábrica.

Titubeou quando alguém removeu o hiato para o café. Hiatos são importantes? Dá pra pedir reembolso de hiatos? Era justamente no hiato para o café que surgiam as reflexões mais elucubrativas para além do êxito fabricado. Por sorte ou azar sobrou-lhe a baiuca. Ah, a baiuca! Heroína ecumênica de todas as bocas secas! Tinha até uma credencial baiuquiana, mas precisava guardar debaixo da blusa para cumprir outros papéis sociais que lhe ensinaram ser necessário para sobreviver.

Retornou os pensamentos nesse rol sintomático: ainda dá tempo de curar-se?

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