Polaridade
Segundo a meteorologia hoje vai chover. Chuva de linguagens múltiplas, multicêntrica. Aguaceiro que arrasta da barraca da feira para o chão, o alimento que gira, gira, gira e como bola certeira na caçapa é ensacolado por mãos coletoras de sobras de fim de feira.
É a chuva das assimetrias sociais que molham os olhos da gente insistentemente em contato com o que fizemos do mundo nessa marcha voluntária para antipatia e derrota.
A chuva no telhado do barraco tem pinga, pinga, pinga e baldes por todos os lados.
Nas mansões os patrões em chuva ácida roubam até o auxílio emergencial dos que apanham o alimento no final da feira e moram nos barracos com os tetos furados.
A chuva de gafanhoto poderia ter endereço certeiro como uma ema ou uma naja e devastar apenas quem acumulou riquezas às custas da dignidade pacífica, alheia.
É madrugada e vai ter chuva de meteoro. De cima da laje dá pra ver a luz que corta o céu, a noite e a insustentável sensação de uma coexistência que grita silenciosamente ao olhar estrelas.
Marah Mends.
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