segunda-feira, 20 de abril de 2020

Pormenorizado - Marah Mends











Pormenorizado

Ao deitar-se, teve um declínio cognitivo leve, não lembrava se havia escovado os dentes. Como saiu do banheiro e deitou na cama mesmo? Saiu? Deitou? Plunct plact zum, um pedaço da memória  em lugar nenhum. Salve, Raul! 
É ruim um declínio cognitivo leve, mas poderia ser pior, como não lembrar de tomar a pílula para estar de pé na manhã seguinte. Pílula para acordar, pílula para desencanar, pensar, dormir, pílulas… que nem sempre são em formatos de pílulas, já que cada um reinventa a sua.

Ao puxar o eixo cronológico somado a sua identidade, lembrou-se de quando combinou, em seu quarto, com as energias do universo, que um dos sinais de que o seu tempo neste caleidoscópio de emoções estivesse perto, era quando começasse a esquecer da coisas. porque foi exatamente assim com seus ancestrais mais próximos: o declínio cognitivo leve.

O semblante ainda estava atônito ao fechar os olhos, precisava acalmar o peito e relaxar o mosaico de elementos físicos e psíquicos, senão, acordaria com olheiras. Acordaria? Ainda sonhava? Ainda acreditava? Quando deixou de experimentar o mundo através dos sentidos? Dói só passar por ele? 
Finalmente descansou as pálpebras, os sentidos, o declínio cognitivo e flutuou  na liminar da inexistência.

Marah Mends

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Garantia territorial (narrada) Marah Mends




Garantia territorial - Marah Mends



Garantia territorial

Desaconselhou a sair de casa, mas a sua presença era indispensável. Na verdade, era um alívio poder sair, mas só dizia para si! 
Durante o caminho, ônibus cheio mesmo depois de todos os alertas, as frotas reduziram, claro que ia dar nisso. Evitou sair de branco, toda confusão evitada era lucro. Ao entorno, ideias retrógradas, gente de caráter mecanicista e uma garota que falava saudosa sobre a sua avó, parecia ser recente. Doze horas de trampo focado a aguardam e, em sua profissão, não podia falhar, atenção redobrada em época de pandemia. 
Meia hora para um almoço atribulado e no intervalo entre uma garfada e outra, olhava para a tela falante do refeitório. O capataz ainda está a solta pronunciando-se sobre o tema com o seu profundo desconhecimento de causa. Ele deveria estar aqui e ver com seus próprios olhos como tudo acontece, pensou. Não tinha tempo pra ter raiva ou xingar, então, só lhe restava agir e salvar vidas, mas aquele incômodo perdurava.

De volta para casa, a cinco metros do portão, estava implícito em seu sorriso que, apesar de tudo, ainda preferia estar na desordem do mundo social, do que ter que encarar a desordem do mundo pessoal.

A sombra de um homem a aguardava no portão, como todas as outras vezes.

Marah Mends

Boletim Poesia é da hora no domingo de Páscoa


segunda-feira, 6 de abril de 2020

Pensamento tridimensional - Marah Mends



Pensamento tridimensional.

Salpicou impetuosidade sobre o ambiente antagônico e aguardou a represália. Os projéteis em deformidade vinham de ambos, uma lambança atrás da outra, sem direito a escapatória. 
Onde está o ponto de equilíbrio? Quem começou a apontar o lápis antes da escrita rasgar a folha? 
Expoente da contravenção, conflagrou conjunturas de uma cotidianidade arruinada desde o princípio. Em vão buscou por elucidação, tudo em sua volta era degredo e abdicação da verdade adversa. 
Continuou a salpicar impetuosidade sobre o ambiente antagônico e, foi assim, a sua passagem pelo mundo.



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