Garantia territorial
Desaconselhou a sair de casa, mas a sua presença era indispensável. Na verdade, era um alívio poder sair, mas só dizia para si!
Durante o caminho, ônibus cheio mesmo depois de todos os alertas, as frotas reduziram, claro que ia dar nisso. Evitou sair de branco, toda confusão evitada era lucro. Ao entorno, ideias retrógradas, gente de caráter mecanicista e uma garota que falava saudosa sobre a sua avó, parecia ser recente. Doze horas de trampo focado a aguardam e, em sua profissão, não podia falhar, atenção redobrada em época de pandemia.
Meia hora para um almoço atribulado e no intervalo entre uma garfada e outra, olhava para a tela falante do refeitório. O capataz ainda está a solta pronunciando-se sobre o tema com o seu profundo desconhecimento de causa. Ele deveria estar aqui e ver com seus próprios olhos como tudo acontece, pensou. Não tinha tempo pra ter raiva ou xingar, então, só lhe restava agir e salvar vidas, mas aquele incômodo perdurava.
De volta para casa, a cinco metros do portão, estava implícito em seu sorriso que, apesar de tudo, ainda preferia estar na desordem do mundo social, do que ter que encarar a desordem do mundo pessoal.
A sombra de um homem a aguardava no portão, como todas as outras vezes.
Marah Mends
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