Em 2014, eu fazia oficina de
poesia junto com o povo de rua do Núcleo Barra Funda. Ali, a gente sentava,
discutia, brisava ideias, fazia leitura de outros textos, propunha temáticas
para a criação das poesias, lia o que escrevia, prestava atenção na ideia do
outro. Nessa brincadeira, lançamos três coletâneas artesanais só com textos do
povo de rua. Foi massa! Mó troféu!
E foi numa dessas turmas da
oficina de poesia que conheci a Amália. Ela sempre tava acompanhada de alguém,
mas sozinha de si. Falava pouco e das poucas vezes que falava, os olhos falavam
mais que a boca. Sabe aqueles olhos que conversam com você? Eram os dela... e às
vezes a sintonia que ela transmitia me deixava triste...
Vi tretas da Amália. Vi a Amália
brigar com seu companheiro. Vi a Amália ser xingada. Vi a Amália sorrir,
chorar. Vi mina da rua querendo dar porrada na Amália. Vi a Amália grávida. E
aqueles olhos da Amália, sempre os mesmos, sempre sozinhos de si. De repente...
não vi mais a Amália... ela sumiu. Grávida e sozinha no mundo...
Aqueles encontros na sala da
oficina de poesia me inspiraram a escrever: A culpa é da raça feminina, que
está na página 21 do livro O povo de rua resiste...
Marah Mends.
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