sábado, 13 de maio de 2017

Histórias por trás das poesias - A culpa é da raça feminina



Em 2014, eu fazia oficina de poesia junto com o povo de rua do Núcleo Barra Funda. Ali, a gente sentava, discutia, brisava ideias, fazia leitura de outros textos, propunha temáticas para a criação das poesias, lia o que escrevia, prestava atenção na ideia do outro. Nessa brincadeira, lançamos três coletâneas artesanais só com textos do povo de rua. Foi massa! Mó troféu!

E foi numa dessas turmas da oficina de poesia que conheci a Amália. Ela sempre tava acompanhada de alguém, mas sozinha de si. Falava pouco e das poucas vezes que falava, os olhos falavam mais que a boca. Sabe aqueles olhos que conversam com você? Eram os dela... e às vezes a sintonia que ela transmitia me deixava triste...

Vi tretas da Amália. Vi a Amália brigar com seu companheiro. Vi a Amália ser xingada. Vi a Amália sorrir, chorar. Vi mina da rua querendo dar porrada na Amália. Vi a Amália grávida. E aqueles olhos da Amália, sempre os mesmos, sempre sozinhos de si. De repente... não vi mais a Amália... ela sumiu. Grávida e sozinha no mundo...

Aqueles encontros na sala da oficina de poesia me inspiraram a escrever: A culpa é da raça feminina, que está na página 21 do livro O povo de rua resiste...

Marah Mends.
 


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