quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

1º boletim Poesia é da hora de 2019, com texto de Ana dos Santos, de Porto Alegre


E o primeiro boletim Poesia é da hora de 2019, chega com o texto poético da nossa convidada de honra: Ana dos Santos, diretamente de Porto Alegre - RS. Ana também é poeta, participa de diversas articulações literárias em sua cidade, graduou-se em Letras na Federal do R.G.S, tem um blog chamado Flor do Lácio onde é possível apreciar seus diversos textos e circulações literárias.

O boletim Poesia é da hora é uma produção independente e está no ar desde 2012, dentro do programa Meu Caro Amigo e, é apresentado semanalmente aos domingos (11h40), por Romeyka Pereira, Marah Mends e Gilberto Cruz. Diversos textos poéticos de autorxs de todo Brasil já abrilhantaram nosso boletim.
Sabe como você fortalece ações como essa? Ouvindo, divulgando, compartilhando...
Aliás, se tiver algum texto poético, música autoral, eventos culturais que queira divulgar na rádio, manda pra gente!

Contatos:

Blog da Ana dos Santos: (da nossa convidada da semana)
Blog: https://anitamorango.blogspot.com/

Blog do projeto Poesia é da hora:
http://poesiaedahoramano.blogspot.com/

Contato da rádio Cantareira FM:
http://radiocantareira.org/ (no cartaz tá com www, mas ignora, tá?)

Telefone: 11 3923 2480
Zap: 11 9 7337 0372

Até domingo.

domingo, 20 de janeiro de 2019

1º sarau Poesia é da hora de 2019 - Casa Florescer


Salve, salve sarauzeirxs! Bora sarauzar em 2019?
Nosso primeiro encontro do ano, tá marcado pra rolar na Casa Florescer, dia 09 de fevereiro às 15h. E quem já foi nos saraus na Casa sabe que o baguio é louco e começa sem ter hora pra terminar. Em 2019 queremos continuar esse legado ao lado das nossas irmãzinhas, então... se for chegar, chega na humildade e com respeito e traga suas poesias, músicas, livros, zines, performances, artes no geral porque aqui é habeas mic, só chegar!

Marca aí na agenda:

Casa Florescer (Centro de Acolhida para mulheres transexuais e travestis)
Data e horário: 09/02/19 (Sábado) às 15h
Local: Casa Florescer – Rua Prates, 1101 – Bom Retiro (Ref. Metrô Armênia, paralela à R. Miranda, atrás da igreja coreana).
Realização: Poesia é da hora e Casa Florescer.
Contato: poesiaedahora@gmail.com

Voltaremos em fevereiro 2019


segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O pó que atiça a rinite - Marah Mends


O pó que atiça a rinite.

Em 1998, em uma viagem para BH, você me trouxe um cartão-postal do Mineirão. Já pensou que louco seria
 se a gente tivesse assistido um jogo lá e blábláblá? Talvez do seu time, talvez do meu, provavelmente do meu,
 cê sabe. Pra você é mais fácil ser menos orgulhosa do que eu, então... (trago notícias do futuro: me melhorei
um pouquinho, tá?). Mas aí... ano vai, ano vem, título vem, título não vem (meu time) e, aquele fervor pelo o
 futebol esfriou.

Em março de 2001, você me escreveu uma carta que começou assim: “Quem diria que chegaríamos até aqui, né? 
”. E, pensando mais visceralmente sobre isso, quem diria mesmo! In memoriam: Lucílio, Zoio, Perna, Ball e tantos 
outrxs que de alguma forma, fizeram parte da nossa infância e adolescência e que... deixaram as suas lascas nas
 quinas de bate-testas da quebrada. E a gente... “Quem diria que chegaríamos até aqui, né?”

Em janeiro de 2005, eu madrinha, e você vestida de rosa e sandália branca. Dona Conceição de camisa azul e 
calça preta. Seu Bauru... não sei se era branco ou cinza o que vestia, às vezes me confundo com as cores na vida.

Em novembro de 2006, você entregou um convite amarelo na casa da dona Maria. Era o chá de bebê do Vitão e 
estava escrito assim: “01 Pagãozinho”. Mas que raios é pagãozinho?

Em 2007, você me mandou um e-mail, comentando sobre meus escritos. Você foi a primeira pessoa, depois de 
mim, a acreditar nesse lance de escrever e publicar. No mesmo e-mail, me perguntou sobre as peculiaridades 
da faculdade e, a vontade em cursar Pedagogia um dia. Na reciprocidade, trocamos...

 Foram décadas tretando e fazendo as pazes. Na nossa amizade, coube mais de mil e uma situações fugazes e 
duráveis, capazes de nos arrancar até hoje, o choro e o riso (mais riso que choro). Ainda nos cabe tantas 
memórias e melhorias, que bom! E você, ora veja, escolheu o caminho do Senhor e eu, o caminho das brejas, 
afinal: “Bem-aventurados os que chapam, pois veem o Senhor duas vezes” (é... eu sei que você não gostou 
dessa piada). Mas é o que tenho pra hoje revirando o pó que atiça a rinite.

Marah Mends



segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Poesia é da hora...


Pedra Bruta - Marah Mends



Pedra bruta.
Ela gosta da família por perto, de frequentar templos, de rezar terços, acender velas e incensos, de conversar com os santos para aliviar tormentos, de fazer roda de conversa, de cumprimentar as plantas, os bichos e de ver novela. Ela ralou a vida toda desde menina, lavando roupa para patroa branca e passando por cima de olhares tortos por causa da sua melanina. Buscou através dos estudos, trocar a realidade do pão duro da vida pela utopia do gosto doce da broa. Ela se aposentou por tempo de serviço na área da saúde, antes disso, casou, criou suas crias às vezes sozinha, às vezes acompanhada, mais sozinha que acompanhada, mesmo casada. É que companhia de macho é falha. 
Ela sempre foi a mais forte, a mais mandona, a mais brava, a mais ciumenta, a mais responsável, a mais incrível e, isso também lhe trouxe muita solidão e desgosto exposto. Pra que ser forte o tempo todo, mulher? Que pena que você não toma uma breja, seria a minha melhor companhia de todas as mesas.
Certa vez, viajando só eu e ela, trocamos ideias sobre assuntos que retorcem as entranhas, de mulher para mulherão da porra. Percebo que ela me confia assuntos que são tão nossos e foda-se se você quer saber! O que é nosso é nosso! Fico feliz em exercitar a escuta, confiança é um treco que prezo, confiança é a lapidação em pedra bruta.
Ela está perto dos setenta. Quero poder segurar suas mãos quando tiver com oitenta. Ela é zica, ela é mar bravo, é cafuné, é tormenta, é onda que cai, levanta, e que acolhe as outras ondas.
Será que ela é feliz?

Marah Mends

O velho deitado no sofá - Marah Mends


O velho deitado no sofá.
Ele apreciava a boemia, os botecos, as brejas, as cachaças, as conversas e risadas, as fumaças e os chamegos, mesmo com um anel no dedo. Não perdia uma história contada no bar, ininterruptamente estava lá, jogando dominó e bilhar, às vezes ficava mais lá do que no “ambiente familiar”. O bar era como uma válvula de escape, uma dependência física e emocional, como uma sede que não matava se estivesse em casa. Emputecia quando a família captava complexidades em coisas simples, como chapar em paz e tentar ser livre nesse mundo de merda, liberdade essa que nunca teve e nunca terá. Os anos passaram, os joelhos doeram, os dentes caíram, os cabelos esbranquiçaram, a pele ficou flácida e a disposição soltou a sua mão. Com a saúde capenga deitou em várias macas que o serviço público ofereceu, passou perrengues, chorou, não quis mais chamego com a boemia, entrou numa fase esquisita de querer ser caseiro, botou ponto final nas polissemias. Mas, depois dos setenta a vida ficou muito chata, rotina de ser velho capenga virou uma grande bosta e as vozes ao redor o deixaram mais rabugento do que já era. Agora quase não fala, evita conversas, quase não ri, quase nada de tudo... virou de tudo um nada. Certa vez o velho deitado no sofá, me olhou com aquele olhar de quem não tem muito tempo e disse algo que me intrigou:

- Dos filhos que tive, você é a que mais parece comigo!
Não sei se foi praga ou se foi benção. Não sei se me ofendo, se me alegro, se me corrijo, se sigo ou se me contento. A vida é cheia de verdades perfurocortantes que às vezes a gente resiste em ter por perto, mas elas sempre dão um jeitinho de bater na nossa porta.
Afinal, o que é ser feliz?

Marah Mends

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