Pedra bruta.
Ela gosta da família por perto, de frequentar templos, de rezar terços, acender velas e incensos, de conversar com os santos para aliviar tormentos, de fazer roda de conversa, de cumprimentar as plantas, os bichos e de ver novela. Ela ralou a vida toda desde menina, lavando roupa para patroa branca e passando por cima de olhares tortos por causa da sua melanina. Buscou através dos estudos, trocar a realidade do pão duro da vida pela utopia do gosto doce da broa. Ela se aposentou por tempo de serviço na área da saúde, antes disso, casou, criou suas crias às vezes sozinha, às vezes acompanhada, mais sozinha que acompanhada, mesmo casada. É que companhia de macho é falha.
Ela sempre foi a mais forte, a mais mandona, a mais brava, a mais ciumenta, a mais responsável, a mais incrível e, isso também lhe trouxe muita solidão e desgosto exposto. Pra que ser forte o tempo todo, mulher? Que pena que você não toma uma breja, seria a minha melhor companhia de todas as mesas.
Ela sempre foi a mais forte, a mais mandona, a mais brava, a mais ciumenta, a mais responsável, a mais incrível e, isso também lhe trouxe muita solidão e desgosto exposto. Pra que ser forte o tempo todo, mulher? Que pena que você não toma uma breja, seria a minha melhor companhia de todas as mesas.
Certa vez, viajando só eu e ela, trocamos ideias sobre assuntos que retorcem as entranhas, de mulher para mulherão da porra. Percebo que ela me confia assuntos que são tão nossos e foda-se se você quer saber! O que é nosso é nosso! Fico feliz em exercitar a escuta, confiança é um treco que prezo, confiança é a lapidação em pedra bruta.
Ela está perto dos setenta. Quero poder segurar suas mãos quando tiver com oitenta. Ela é zica, ela é mar bravo, é cafuné, é tormenta, é onda que cai, levanta, e que acolhe as outras ondas.
Será que ela é feliz?
Será que ela é feliz?
Marah Mends
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