Em setembro de 2014, iniciamos um
novo desafio. Desde 2012 estávamos com o projeto sociocultural Poesia é da hora
na Tenda de Convivência Barra Funda (e fizemos grandes parcerias e amizades por
lá). Somos imensamente gratos ao espaço cedido, ao carinho da Cláudia Barbosa,
gerente de lá, a atenção da Tuca, educadores e por acreditarem em nosso projeto
que leva saraus e oficinas literárias para os moradores em situação de rua e
tem o apoio do ProAc
Recentemente iniciamos o projeto
na Tenda Alcântara Machado (debaixo do viaduto Alcântara). A Tenda foi
indicação do professor Henrique José, que cuida da parte do som do nosso
projeto e participa ativamente às sextas-feiras de uma roda de samba, formada
pelos conviventes da casa. Ao entorno da Tenda Alcântara, moram homens,
mulheres, crianças... famílias inteiras. Todas, em situação de rua. Muitos, já
tem seus barracos fixos montados, moram ali há anos. Quer ver uma vertente da realidade,
meu chapa? Descrever é osso, cola um dia em nosso sarau. Veja com os seus olhos
e não com os meus. Um dos objetivos do projeto Poesia é da hora é levar a arte
literária aos moradores em situação de rua, como arte inclusiva. É... isso
virou meio que... missão. No começo era confuso, mas hoje sabemos que é missão.
A arte literária, não só pra classe média, baixa ou alta ou para fazer em
locais fechados, bonitinho, limpinhos e que todo mundo gosta. Dane-se a classe!
Dane-se o lugar! O desafio do Poesia é da hora, é fazer arte literária pra quem
quiser fazer e principalmente para a população dita excluída! E eles fazem,
viu? Cada história você ouve! Cada história eles contam. Aqui... tem
ex-professor e ex-aluno da USP. Tem gente que veio de longe, muito longe... e
nunca mais conseguiu voltar. Tem gente que veio da cadeia. Tem gente que veio
porque a droga o levou. Tem gente que veio porque a família abandonou.
No primeiro dia de aula, os
alunos responderam a questionários que eu preparei, pra que pudesse conhece-los
um pouco melhor, saber o que pensavam, o que queriam. Em breve esses relatos
serão publicados no Blogspot/Facebook (Poesia é da hora), preservando a
identidade de cada um. Apenas as histórias serão contadas. Os alunos que
frequentaram esta oficina, mostraram ser bem politizados, ativistas, pensantes!
Um deles, disse que o cara que mais admirava era o Nietsche, o filósofo alemão.
Mano, para tudo! O cara lê Nietsche! Tapa na cara da sociedade! Você acha que
morador de rua não lê? É mermão... tem nego aqui que tem leitura dinâmica, sabe
o que é isso? Ele colocar três livros abertos, um embaixo do outro. Lê 10
páginas de cada livro. No final de alguns dias, já foram 3 livros lidos.
Conheci pessoas na faculdade que não lia nem dois livros por ano.
No segundo dia de aula, uma aula
adolescente, foi questionada sobre que matéria ela mais gostava de estudar na
escola. É... ela está em situação de rua, mas estuda, tá? E ela disse: Química,
física! Fiquei surpreendida, confesso. Disse a ela que poucas pessoas gostavam
dessas matérias e ela respondeu:
- Na verdade, uma matéria está
interligada a outro. A gente precisa ter o português para aprender química e
química para entender biologia e aí vai.
É... da hora conhecer gente
assim! Nem na faculdade eu vi alunos tão aplicados.
Estes são apenas alguns relatos
dessa aventura real que é... a oficina Poesia é da hora, para moradores em
situação de rua.
Salveeeeeeeeeeeeeeeee!!!
Marah Mends
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