De cada dentro... dez fora.
Mourato Coelho foi um bandeirante
paulista da época colonial. Intolerante como qualquer bandeirante, prestava-se
a escravizar e assassinar o povo indígena, o povo negro e o povo pobre. Fazia
uns escambos, ganhava uns cobres e deixava a Casa Grande satisfeita com meus
golpes.
Os bandeirantes em sua maioria eram
desprovidos de riqueza. Financeiramente viviam de incertezas pois só faturavam
se a missão era “bem-feita”. No ringue era pobre contra pobre e quem apertava o
sino eram os nobres, que ficavam de camarote divertindo-se com a rinha entre
pobres.
A farda bandeirante não era cinza. Talvez nem
cor tinha. Era só um colete surrado de couro de anta. Aquilo era a manta que o protegia
das flechas da resistência indígena. Flechas contra o disparo do cano longo.
Quem levou a melhor? Flechas ou disparo do cano longo? Quem levou a melhor? Um
pobre com um pedaço de pau pedindo comida ou um fardado com um trezoitão
engatilhado e o sistema todo do seu lado? Quem levou a melhor?
Tem instituição que protege e
apadrinha quem oprime o povo indígena, o povo negro e o povo pobre! Tem
instituição que esmaga quem se rebela contra esse lixo cultural que nos consome
feito traça.
No dia doze de julho de dois mil
e dezessete, Ricardo Oliveira Santos, preto, pobre e morador de rua há mais de
dez anos, foi assassinado com três tiros por um policial militar. Ricardo queria
um pedaço de pizza. Ricardo estava fortemente armado com um pedaço de pau. Um
pedaço de pau... um... pedaço... de pau. Ele só queria um pedaço de pizza... um
pedaço de pizza... sabe aquela pizza que você compra não aguenta comer e deixar
na mesa pra ser jogada no lixo pelo garçom? Ricardo queria aquele pedaço de
pizza...
Ricardo Oliveira Santos foi covardemente
executado na Rua Mourato Coelho. A Rua com o nome de um opressor.
De quem é o reflexo que aparece
no espelho?
Texto de Marah Mends
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