terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Presumidamente - Marah Mends


Presumidamente.

De olhos fechados deitou e suspirou antes do jantar. Água quente em corpo cansado causa um impacto tão bom, antes! Caminhada tête-à-tête, olhares sagazes e no céu, antes, a ausência do celeste. No ponto, fila a dobrar a esquina, expressões impassíveis, abruptas e subalternizadas se misturam aos olhares passíveis pelo caminho antes do fim da tarde. Antes do fim de tudo, nunca se sabe. Transporte público lotado, antes, durante, depois. A tarifa cara! A viagem desconfortável! É o que tem pra hoje e pra sempre essa forma intratável de tratar? A tarifa aumenta, antes, a frota diminui e segue. 
Oito horas no mínimo para, categoricamente em pontos de convergência, garantir o sustentáculo do fim do mês. O chefe é humano ou parasita? Nada tá bom, carai! Mas as expressões naturalizadas da equipe permanecem. Bandeco vem, bandeco vai. Vida vai, vai, vai… Segundo o DIEESE, o salário mínimo deveria ser o quádruplo do que pagam. O quádruplo, bicho! Atitudes coletivas submissas agem? Na sombra da sociedade há tantos nessa habitualidade raivosa da paz que nos cerca.
Um amontoado de gente, antes, chamam de fila. Quem senta é rainha, quem fica em pé que se segure sem seguro nas curvas, antes. Um copo com café puro e um pão de queijo são vendidos por dois contos o conjunto. Cadê as moedas? Caminhada até o ponto, tudo ainda está aparentemente tão calmo, tão leve, raro momento do dia, antes. A roupa está passada e pendurada desde a noite anterior. Pasta de dente na escova, espelho, cara lavada, passos lentos, bocejos de dar câimbra, uma preguiça e apatia que faz eco lá na China. 
De olhos semiabertos levantou e aspirou antes do café.

M.M

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