sexta-feira, 27 de março de 2020

Insumo - Marah Mends


Insumo.

O isolamento já ocorria antes do isolamento. Da história, classe, gênero, conhecimento, das consequências da gripe espanhola, povos originários, da empatia, acolhimento e qualquer fragmento identitário subjugado inferior. Isolamento pessoal e social antes, durante e pós  exílio imensurável. Isolar-se socialmente também é ter que encarar na mesa do café, almoço e jantar os três eus pululando feito rã em nós. Nosso eu primário quer ir pra rua ver gente, pois não aguenta mais olhar para as paredes. Nosso eu secundário adequa os instintos primitivos e às vezes usa o senso de humor para enfrentar a situação. O eu terciário diz: Calma parça, sair agora não é seguro, guenta aí! Há alguma novidade nessa neutralização desencadeada por um fim utilitário? Sem querer desmerecer as fases do processo de aprendizagem, mas ao olhar ao seu redor é vida pra viver que vê ou vida que se arrasta? De que vale a integração sem equidade se a sintonia de ideias está fora da margem da aplicabilidade? Quem são os primeiros a se foder quando uma grande crise se revela? E quem é que habitualmente se salva? Será que vamos sair melhores dessa ou será que vamos sair sem sair do mesmo lugar de antes? 
Algo não estático está despropositado em pertinência, mas que droga, pra começo de conversa, essa cotidianidade nem deveria estar ali, disseram. Insumo de gente!

Marah Mends

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