segunda-feira, 22 de julho de 2019

Discrepâncias - Marah Mends


Discrepâncias
Entrou em descompasso com o passo vacilante que deu. Vacilar já tá no sangue é hereditária a vacilação em que se submeteu. Mesmo depois de reinterpretar significados e abrangências das lembranças e esquecimentos, as silhuetas das paisagens só comprovaram a ausência de discernimento. Quando tudo isso começou?
Tal como um advérbio de intensidade, acumulou mais e mais ambiguidades na superficialidade do caminho; tinha potencial criativo para isso. Sob o viés qualitativo é possível talhar versos de prestígio tendo seu semblante em constante estado pejorativo? Quem é que entrega a bolsinha da vacilação, afinal? E quem é que pega? Quem é que fornece? Quem é que reproduz? Quem é que tomba? Tem cor? Tem classe social?
Bocas desabotoadas em dias-noites de incêndio. Quando a notícia estourou um corpo foi encontrado na calçada, no relento, um nada no meio do nada. Vacilante fuzilou-se com apreço. Aonde estão os agentes da mudança quando se precisa de um acolhimento sem julgamento?
Legitimada, mais uma vez, a execução de quem vacila. O cidadão de bem reclamou, afinal, um corpo qualquer estirado no chão atrapalhou a sua caminhada matinal.

Marah Mends

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