Traçar a linha
Há setenta metros do chão olhou para baixo. De imediato sentiu o vento gelado neutralizar as narinas... brrrr, frio da porra! Baforou nas mãos e de súbito lembrou da fumaça do cachimbo do avô. Engraçado memorar a fumaça, o cachimbo, o avô. Essa conexão neurológica faz sentido? Da boca, "fumaça" sai, mas por que evocou o cachimbo?
A indisciplina transcorre nesse pensar que corre solto. Bastou concentrar-se no horizonte revolto para tornar perceptível a ausência da fumaça na boca e a presença das partículas condensadas a dançar boca a fora. São tão díspares no significado a fumaça e a partícula condensada! Uma é X a outra é Y e ambas carregam consigo a anatomia da poesia em movimento, balanço e ritmo.
Traçar a linha e cruzar com ela. Traçar a linha e olhar para ela. Traçar a linha e tropeçar nela. Traçar a linha e estar ao lado dela. Traçar a linha e estar dentro dela. Traçar a linha e ser traçada por ela.
Seja do chão ou do elevado, entre fumaças, partículas condensadas ou traços, a respostas é a mesma: existe uma sensação sublinhada no ar...
Marah Mends
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