segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Achados & Perdidos - Marah Mends


Achei uma bolinha de gude perdida no quartinho das bagunças. Mó bonitinha ela: azulzinha, pequena e com uma listra branca no meio. A listra parecida com a lua crescente. Coloquei-a na palma da mão e fiquei olhando-a com um sorriso meio besta, mais besta do que o habitual. Parei de olhar quando tive a impressão que ela me olhava também. Um a zero pra bolinha, porque quem não desvia o olhar, ganhou.
Bolinha de gude, pelo menos pra mim, traz as memórias dos "canela cinzenta" com seus potes cheios de bolinha debaixo do braço. As meninas não eram bem-vindas nessa brincadeira e só ficavam as marrudas ou as desobedientes.
Fazíamos triângulos no chão de terra e cada jogadora e jogador colocava uma quantidade de bolinhas dentro daquele triângulo. Contávamos de três a quatro passos a frente desse triângulo e fazíamos uma risca em linha reta no chão, nem tão reta assim. As jogadoras e jogadores se posicionavam atrás dessa linha, um ao lado do outro. A gente chamava a bolinha maior de boticão, cada jogadora e jogador normalmente começava com uma boticão na mão. A boticão era a bolinha mais robusta, a matadora, a que ia fuzilar sem dó as outras bolinhas adversárias e tirar a maior quantidade de bolinhas pequenas de dentro daquele triângulo que era a prisão das bolinhas. Ganhava o jogo quem matasse as boticões adversárias e tirasse todas bolinhas de dentro do triângulo. Passávamos horas assim... até que o pote se esvaziasse, enchesse ou uma mãe gritasse pra entrar que já tava tarde.
Objetos são ótimos instrumentos para reativar memórias...

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