quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Dia de Visita - Marah Mends


Dia de visita.

Ainda é cedo. E elas já estão de prontidão em frente ao portão com uma sacola na mão para cumprir mais um dia de detenção. Elas são mães e conversam entre si na fila de espera. A documentação é apresentada, a segurança indaga, a sacola é vistoriada, cada camada do corpo é apalpada, o sorriso se apaga, a tristeza propaga e elas resistem, entram. São seus filhos que estão do outro lado do portão, e mesmo que digam o contrário, são seus filhos que estão do outro lado do portão. Filhos.
- Cadê seu pai, moleque?
- Nunca vi, nem ouvi eu só ouço falar!
O aborto paterno é mais comum do que se imagina e há várias maneiras de se fazer isso, uma delas: o abandono. Mães seguem resistindo uma dor sua, uma dor do filho, uma dor dos seus antepassados, uma dor infinita. Cacete, como elas conseguem resistir tanto? E como não enlouquecer, como não pirar com tudo isso?
Quadrados gelados foram sistematicamente arquitetados para não receber poesia, mas não há poesia que seja páreo ao abraço de uma mãe na hora da despedida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

PROJETO POESIA É DA HORA COMPLETA 06 ANOS E FAZ FESTA NO BAR DO FRANGO

06 anos do projeto Poesia é da hora. Bar do Frango. Eita noite boa! Noite de festa! Noite de aniversário! Noite celebração da arte,...