Dia
de visita.
Ainda
é cedo. E elas já estão de prontidão em frente ao portão com uma sacola na mão para
cumprir mais um dia de detenção. Elas são mães e conversam entre si na fila de
espera. A documentação é apresentada, a segurança indaga, a sacola é
vistoriada, cada camada do corpo é apalpada, o sorriso se apaga, a tristeza
propaga e elas resistem, entram. São seus filhos que estão do outro lado do portão,
e mesmo que digam o contrário, são seus filhos que estão do outro lado do portão.
Filhos.
-
Cadê seu pai, moleque?
-
Nunca vi, nem ouvi eu só ouço falar!
O
aborto paterno é mais comum do que se imagina e há várias maneiras de se fazer
isso, uma delas: o abandono. Mães seguem resistindo uma dor sua, uma dor do
filho, uma dor dos seus antepassados, uma dor infinita. Cacete, como
elas conseguem resistir tanto? E como não enlouquecer, como não pirar com tudo
isso?
Quadrados
gelados foram sistematicamente arquitetados para não receber poesia, mas não há
poesia que seja páreo ao abraço de uma mãe na hora da despedida.
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